GISBERTA - O ROSTO DA NOSSA INDIGNAÇÃO


É um dever cívico recordar Gisberta como símbolo da exclusão e da ausência de humanidade. Como símbolo de uma sociedade cruel e indiferente, que trata os deprimidos como se não fossem gente.
O caso Gisberta consubstancia todas as vertentes da miséria humana. Era um sem abrigo sem eira nem beira. Era um prostituto de rua dos mais prostitutos e dos mais aviltados. Era imigrante brasileiro num país que não soube integrá-lo. Era transsexual numa sociedade que ainda discrimina. Era pobre entre os mais pobres sem afectos.
Um grupo de crianças, entregues a uma instituição maltratavam Gisberta. Batiam-lhe, insultavam-no, porque elas crianças, também sem raízes, viam em Gisberta o que não queriam ser. E batiam, batiam e Gisberta implorava e foi atirado vivo(a) para um poço onde agonizou três dias antes de morrer numa ruela da cidade do Porto.
Porque Gisberta não era ninguém, não era nada, neste mundo injusto que teima em a esquecer.
Símbolo dos pobres e dos maltratados, nós não deixaremos Gisberta morrer.
Olhem para Gisberta, lembrem-se de nós, que aqui estamos para a fazer viver.
Porque não seremos gentes enquanto a deixarmos morrer.

Lídia Soares

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